Tempestade perfeita no Norte de África e no Médio Oriente junta-se à inacção europeia.

1 – Porquê tantos migrantes?

Há um enorme fluxo de migrantes – entre refugiados e migrantes por razões económicas – neste momento porque nunca, desde a Segunda Guerra Mundial, houve tantas pessoas deslocadas do seu país. A razão principal: o rebentamento de conflitos armados que aumentou para 59,5 milhões o número de refugiados em todo o mundo no final de 2014, segundo a agência das Nações Unidas liderada por António Guterres (metade são crianças). Há uma década havia 37,5 milhões de refugiados, o que ilustra o “aumento, por travar, à escala global das deslocações forçadas” de populações, como afirmou Guterres em meados de Junho deste ano. Desde 2010 registou-se o início de pelo menos 15 conflitos armados: oito em África (da Líbia ao Mali, passando pela Somália, Nigéria e Sudão do Sul), três na Ásia e outros três no Médio Oriente (Síria, Iraque e Iémen) e um na Europa (Ucrânia). A Síria – que entre deslocados internos e para fora do país conta cerca de 11 milhões de pessoas desde o início da guerra – é hoje a maior fonte de refugiados no mundo. Quase dois terços dos migrantes para a Europa este ano são sírios.

2 – O número de travessias para a europa subiu?

O êxodo para a Europa não é um fenômeno de 2015: dura há vários anos e tem vindo a aumentar (no ano passado houve um recorde de 219 mil travessias do Mediterrâneo). Mas agudizou-se muito este ano, com as Nações Unidas a estimarem a chegada de mais de 300 mil pessoas nos primeiros oito meses do ano.

3 – Porque subiu tanto a chegada de pessoas agora?

Por uma tempestade perfeita de fatores nos dois grandes fluxos migratórios, África subsaariana/Europa e Médio Oriente/Europa. “Na migração africana há um cada vez menor controle de países da região que antes da primavera árabe serviam de tampão, como a Líbia”, explica Felipe Pathé Duarte, especialista em Segurança Internacional e Terrorismo. Os grupos de traficantes de pessoas que dominam a Líbia fizeram do país um ponto de saída de milhares de pessoas. “E há o aumento da violência na Síria e no Iraque, sem uma solução à vista”, acrescenta. A destruição do país, a violência e o risco de recrutamento obrigatório levam milhares a sair. Países como Turquia e Líbano, que já receberam mais de três milhões de sírios que aí vivem em condições muito precárias, deixaram de ser opção e tampão: a onda chegou à Europa com maior força. “A não focagem europeia neste problema agravou a situação”, acrescenta. No caso sírio e iraquiano, os traficantes de pessoas na Turquia surgiram com força – e o verão é a melhor altura para atravessar os balcãs a caminho da Europa central.

Fonte Valor Economico

 Texto de Bruno Faria Lopes